segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Verdades inconvenientes sobre mudanças de paradigma

Foto retirada AQUI
Ouço e leio muita coisa sobre mudanças de paradigma em matéria de requalificação das cidades para uma melhor mobilidade. Mudar significa pensar de novo. E pensar de novo não basta inverter as pirâmides das prioridades em matéria de meios de transporte.
De facto, a foto acima toca em aspectos essenciais do tal "paradigma". A Engenharia de tráfego comandou literalmente o desenho urbano no pós-guerra. O carro surgiu em força no desenho de novas cidades. O desenho urbano sucumbiu debaixo de novas vias, viadutos, túneis, faixas de rodagem mais largas e parques de estacionamento. Onde havia uma rua fez-se uma avenida. Fizeram-se vias rápidas em lugar de avenidas. Parques de estacionamento substituiram praças e largos. 
Quem gerou este pensamento? A evolução do pensamento urbano, se quisermos. 
Quem comandou tecnicamente aquilo a que hoje podemos chamar, sem grandes exageros, de tragédia? A engenharia de tráfego, sem qualquer dúvida. E tratando-se de engenharia, assumiram sempre, à medida que o congestionamento foi crescendo como resultado da estratégia rodoviária assumida, que mais e mais infra-estruturas resolveriam o problema. E assim chegámos a isto:


Na verdade, os novos pressupostos de abordagem à resolução deste problema de congestionamento e da falta de qualidade de espaço público a que a engenharia de tráfego nos conduziu, tendem a ser hoje reclamados...novamente pela engenharia de tráfego!
No fundo, mais uma vez, a engenharia de tráfego promete resolver o problema com uma abordagem metodológica baseada nas regras de tráfego, ainda que com uma roupagem alterada. 
Mas não pode ser. O problema actual urbanistico não é um problema de inversão das prioridades nos meios de transporte, mas sim um problema de coerência de desenho urbano e um problema ambiental. 
A solução não pode passar por cadernos de soluções de "Zonas 30" que, quando assentes numa perspectiva da engenharia do tráfego, produzem verdadeiras destruições da rua, como espaços coerentes e legíveis que devem ser.
Nesta minha comparação acima, entre dois espaços que visitei, uma "zona 30" na Suiça e uma oura na Alemanha, é fácil perceber que o objectivo de reduzir o tráfego de atravessamento e da contenção da velocidade a 30km/h é conseguida em ambas, com a diferença que no caso Alemão não foi a Engenharia de Tráfego que conduziu o processo de desenho urbano.
Assim, para mim, estou convencido hoje de que a mudança de paradigma que precisamos de fazer nas cidades não pode voltar a deixar a Engenharia de Tráfego a gerir o desenho urbano. Porque não têm sensibilidade para isso, e porque têm provas dadas nesse domínio  pelos piores motivos, devem contribuir para calcular e garantir fortes reduções de tráfego a nível global e local, incluindo apoio técnico ao ajuste das medidas de desenho urbano a um correcto funcionamento rodoviário. 
A simples aplicação de modelos de gestão de tráfego, com uma matriz fortemente rodoviária, pensada para o "escoamento" de fluidos, não resolve decididamente a questão que temos hoje em mãos. A decisão formal deve vir à cabeça e deve vir acompanhada por soluções técnicas. É esta a hierarquia que devemos assumir para um novo desenho urbano e para um novo paradigma. Tudo para evitar que, em nome de teorias com novos nomes e novas roupagens, na verdade fique tudo na mesma...
Foto de uma recente rotunda pedonal em Xangai... (fonte AQUI)

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